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Caminhos da vida

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Prof. Dr. Irany Novah Moraes

Felicidade está onde a pomos; nunca a pomos onde estamos.

VICENTE DE CARVALHO

poeta santista

 

Antigamente, as farmácias do interior do país, expunham quadros com mensagens de saúde, de comportamento e de propaganda dos “fortificantes” da época. Lembro-me de um, a sépia, pálido lembrando antiguidade, que mostrava duas estradas partindo de um mesmo ponto levava a destinos opostos.

Uma delas, estreita, tortuosa, subindo montanha, passava por trechos difíceis com locais íngremes, interrompida por rochas, cortada por riachos, com encantadora vista de quedas d’água, árvores floridas e ao fundo horizonte recoberto por maravilhoso céu azul: era o caminho do bem, com dificuldades de percurso mas, tendo como destino o paraíso.

A outra, larga em vertiginosa descida, margeada de numerosas representações de lascívia, simbolizava o caminho do mal.

A iconografia descrita representava duas opções de vida para o ser humano. A reflexão na busca do entendimento desse dilema – o bem ou o mal – leva ao estado de espírito de cada pessoa, para então, pretender-se entender o motivo da escolha de uma, das duas opções. O estado de espírito do ser humano decorre fundamentalmente da índole individual, do ambiente de seu lar, da educação, das amizades e de uma postura voluntária que valoriza os fatos e as próprias experiências. A qualquer momento uma forte deliberação interna, condicionada pelo exemplo na família ou de paradigmas que se tenha elegido, pode mudar a trajetória de vida; seja para o bem ou para o mal, com as conseqüências naturais do destino: alegria ou amargura.

 No primeiro caso, estão os otimistas, cheios de sonhos e contentes com a vida. Estes encontram intuitivamente motivos positivos e agradáveis nos fatos do cotidiano, mas sobretudo, se tiverem a consciência prazerosa do bem estar que sentem. O exercício de procurar ver sempre o lado bom, dos fatos ocorridos, gera no subconsciente uma condição propícia para o indivíduo cultivar o bom humor e a alegria de viver – nesse contexto estão aqueles que “não distinguem trabalho do lazer e, em ambos têm prazer”. Este caminho propicia a felicidade!

 No segundo, estão os pessimistas dominados pelos seus fantasmas interiores que somente vêem o lado ruim dos fatos. São indivíduos temperamentais, “ásperos”, grosseiros, mal humorados, neurastênicos, invejosos, em intermitente crise existencial se já não são, rapidamente tornam-se maus, perversos, frustrados, recalcados e no íntimo, profundamente infelizes.

Essas variações sobre o estado de espírito refletem ou são reflexos do amor próprio do indivíduo que “sabendo gostar de si mesmo” tem auto-estima suficiente para cuidar-se, saber amar ao próximo e, não guardar rancor. Assim, racionaliza a problemática do estresse, bem como das contrariedades e das dificuldades aprimoram, sua sabedoria de viver, aprendendo usufruir os benefícios e conseqüentemente melhorando sua qualidade de vida, no momento e no futuro.

Em contrapartida, aqueles que estão na contramão do bem, são dominados por sentimento que demonstram opinião exagerada de si mesmos, com arrogância, presunção e vaidade. Estes têm inveja do êxito alheio, destilam ódio, prendem-se a idéia de prejudicar o próximo e assim, colocam-se progressivamente no círculo vicioso do mal

As duas estradas representam os caminhos que a vida proporciona ao ser humano. Na verdade, o indivíduo pode a cada momento alterar seu destino, pela simples, mas difícil, mudança de postura. Tal atitude faz aparecer imediatamente uma ponte para levá-lo a outra trajetória. Estando na primeira, na do bem, e se um fantasma mórbido da sua mente o fizer cair em tentação, facilmente desce, baixa sua moral, rompe os princípios éticos e muda seu destino. Também, se aquele já perdido, tendo uma iluminação, pode regenerar-se, a ponte do socorro aparece e como num chamamento, muda de comportamento, e passa a seguir o caminho estreito do bem. A mudança de vida revela uma verdadeira metamorfose!

Em o artigo CÂNONES DA BELEZA, que publiquei neste SUPLEMENTO CULTURAL (dez. 2000) do Jornal da Associação Paulista de Medicina, comentei que o curso de anatomia artística que ministrei na ESCOLA DE BELAS ARTES DE S. PAULO despertou-me a constante busca da parcela de beleza contida em tudo que observo. Esse modo de ser acompanha-me ao longo do tempo e estou certo, me fez ver a vida com bons olhos. Termino, o referido artigo recomendando considerar nesse contexto a emoção que ocorre ao se ver a forma, no conjunto das proporções harmônicas, transformar-se em miragem e, esta revelando a beleza da vida!

Os privilegiados da primeira via tem uma virtude que orna a conduta humana – a humildade; enquanto aqueles que escolheram a segunda via, seu comportamento é maculado pela soberba

Vim até aqui confrontando à caminhada nas duas estradas. Aqui deixo os da segunda via. Espero que o destino fazendo-os infelizes por toda a vida, não seja, ainda, mais cruel, do que já foi, ao dar livre arbítrio, e permitir a opção por eles escolhidas; renegando a humildade para abraçar a soberba.

Recente publicação em O Estado de S. Paulo (07/06/2003) um de nossos maiores pensadores – MIGUEL REALE diz: … “Filosoficamente, para mim, humildade significa a renúncia aos poderes da razão perante os problemas que a transcendem, aos quais ascendemos pelas vias do amor. É nessa posição que talvez se situe a humilde confissão de EINSTEIN, quando reconhece que ‘por de trás da matéria há algo de inexplicável’, contrastando com os que, orgulhosos das conquistas da razão no mundo das ciências positivas, negam Deus e a imortalidade da alma.”

Caso não esteja na primeira via, ainda há tempo! A reflexão o iluminará para reverter sua caminhada; a ponte do socorro aparecerá e uma vez no caminho do bem encontrará alegria. A felicidade está onde a pomos; coloque-a onde você estiver.

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