Prof. Dr. Irany Novah Moraes
Recebi por ocasião do Natal um presente “sui generis” Um amigo enviou-me o símbolo materializado do compromisso humano do médico.
Sem dúvida alguma o primeiro sinal da “boa globalização” foi a profissão da fé, que todo o médico faz ao proferir o Juramento de Hipócrates no ato público e solene de sua colação e grau. Naquele instante ele atravessa os umbrais para entrar no sacerdócio e viver não da medicina, nem a medicina mas, muito mais – para a medicina. Assim, assume do compromisso indelével de dedicar-se ao próximo e assisti-lo com devoção.
Nem todos conseguem entender e muito menos sentir a força interior que todo esse ato desencadeia no sentimento, na consciência e até na alma do médico que com atenção prestou o juramento. Aquele instante, talvez seja o da cristalização em sua personalidade da fonte de energia que o diferencia na comunidade e, que o faz levantar de madrugada para ser o lenitivo do sofrimento do próximo, muitas vezes, sem saber de quem se trata sem discriminação, seja de religião, grupo étnico, comportamento ou condição econômica e geralmente, com a certeza de que sua remuneração será apenas a satisfação íntima de ter tirado a dor de seu semelhante.
A própria Organização Mundial de Saúde adotou e modernizou esse juramento em sua Declaração de Genebra, em 1948.
Folha e fragmento de lenho
A transcrição de trechos da carta que acompanhou o referido presente e da que, ato continuo, respondi completam a mensagem que desejo transmitir aos jovens que vão ser médicos e dos que iniciam suas atividades e vão exercer a profissão nesse novo milênio quando se espera grandes transformações pondo a prova, a cada momento, seus princípios éticos. Deverão ser firmes e carregados de bom senso pra não impedirem o progresso mas, também, não o permitirem cair em tentação.
Vamos à transcrição das cartas,depois aos ícones, aqui decantados e para finalizar o último parágrafo do Juramento de Hipócrates para que o leitor lembre o destino que o médico augura, para si próprio, se for fiel a seu voto ou se dele se afastar.
Bebedouro, 18/12/200.
“Caro Irany
Mando-lhe uma folha do Plátano de Hipócrates e um fragmento do lenho, apanhado por mim, “In loco”com as próprias mãos – A árvore famosa, fica na Ilha de Cós (Kos), margem leste do mar Egeu. Visitá-la foi o motivo da minha viagem. De lá trouxe muda (com todas as dificuldades da alfândega) e ofício da Municipalidade de Cós, ofertando-a para ser plantada nos jardins da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela amadureceu e se aclimatou, tendo sido plantada solenemente em 1997 (três anos depois). Lá está, robusta, para ser visitada pelos ex-alunos. A folha e o lenho que lhe mando (acredito que você aprecie estas coisas) podem ser incluídos em acrílico transparente. Aproveito para desejar a você e familiares, bom Natal, alegria, saúde e felicidades em 2002.”
Petrônio Stamato Reiff’
São Paulo, Natal de 2001.
“Meu caro Petrônio.
Que maravilha! Gostei muito do presente. Já se tornou patrimônio da família que tem três médicos, dois estudantes de medicina e o mais jovem fazendo vestibular, também, para medicina.
Vou colocara folha de plátano e o fragmento do lenho em um quadro com trechos de sua carta como comprovante da autenticidade da peça. Assim, garanto, por mais duas gerações, seu nome ao lado desse precioso documento da historia da medicina. Abraço deste seu amigo.
Irany Novah Moraes .
Para aprimorar esse documento, rememorar a juventude e homenagear o artista Augusto Esteves, com quem, durante dois anos estudei desenho e testemunhei a beleza da trilogia: Hipócrates juramento e Plátano. Reproduzo este, para integrar a iconografia dessa peça.
Indago ao leitor:
Alguém aprendendo a vida no cadáver, educado no sofrimento, formador na dor e plasmado na morte, prometendo devoção ao próximo e pedindo para si próprio a maior das penas, caso não siga a risca seu juramento, não deve ter em sua personalidade algo diferente do comum de todos?
Veja o final do Juramento de Hipócrates e não responda, faça suas reflexões: “Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens e para sempre; se dele me afastar ou infringir, suceda-me o contrário”